Written by Alan Moore, pencils by Rick Veitch, ink by Dave Gibbons / Comic book, color, 32 pages / Limited series (6) / April 1993

João Ramalho Santos, textoCom Watchmen e Miracleman Alan Moore dedicou-se a desconstruir com enorme sagacidade e crueza as bases mitológicas dos superheróis. A sua nova série, de título genérico "1963", tem, aparentemente um objectivo similar. Mas o tom é totalmente diverso. Do realismo crú das suas obras anteriores Moore, recuperando um estilo humorístico que utilizara em algumas histórias curtas para a revista 2000 AD, passa para uma delirante paródia das séries que fizeram o sucesso da editora Marvel nos anos 60. As histórias em si são o que seria de esperar: Combates cósmicos cheios de discursos hiperbólicos, superheróis assorberbados com ridículos problemas do dia-a-dia, vilões muito maus que são inevitavelmente derrotados pelos (ultra)bem-comportados bons no último minuto. Pouco diferem pois dos seus modelos de há 30 anos e só nos espantamos com o facto de terem sido histórias como estas que revolucionaram, como de facto revolucionaram, todo o universo dos "comics". Mas o mais divertido de 1963 são sem dúvida os "anúncios" e as secções de correspondência e opinião nas quais Moore (transfigurado em "Afable" Al uma caricatura cruel do editor/argumentista Stan "The Man" Lee) procura desmontar causticamente todo o sistema de produção-mistificação dos "comics". Para além de desenhadores que habitualmente acompanham Alan Moore destaque ainda para as participações de nomes menos conhecidos como Chester Brown, autor da série Yummy Fur. É aliás notório que 1963 procura precisamente dar a conhecer novos autores aos jovens e fieis "devoradores de mutantes" da Image Comics. Mesmo que não o consiga já poderá ser catalogada como uma das melhores séries de 1993.